“Teatro e Cinema”

dc.contributor.authorPinto, Manuel Malheiro Dias Maia
dc.date.accessioned2024-04-19T10:03:50Z
dc.date.available2024-04-19T10:03:50Z
dc.date.issued1930-06-25
dc.description.abstractEm considerações críticas sobre o destino do teatro, cinema e cinema sonoro, o autor reflecte sobre o desenvolvimento do cinema em Portugal e como este tem encontrado entraves à sua modernização. No entanto, ao lembrar o cinema mudo, o autor recorda a personagem Charlot, interpretada por Charlie Chaplin (1889-1977), e a sua prestação no filme O Circo (tradução de The Circus), de 1928.
dc.description.authorDate1897-1964
dc.format.extent8-9
dc.identifier.urihttps://cetapsrepository.letras.up.pt/id/cetaps/114379
dc.language.isopor
dc.publisherA Renascença Portuguesa
dc.publisher.cityPorto
dc.relation.ispartofPrincípio
dc.relation.ispartofvolume3
dc.researcherMarques, Gonçalo
dc.rightsmetadata only access
dc.source.placeBN P.P. 3800 A.
dc.subjectCinema
dc.textteatro e cinema Teatro, cinema, e cinema sonoro, três espécies de espectáculo que parecem concorrer umas com as outras, que tendem a substituir-se, ou, segundo muitos, a excluir-se. As opiniões dividem-se sobre qual será o futuro provável destas três «artes». As alternativas são sete: ou subsistem todas, o cinema silencioso, o sonoro, e o teatro, ou, pelo contrário, desaparecerá, ou ficará o primeiro o segundo ou o terceiro. Inclinamo-nos a crêr que prevalecerá, acarretando senão o desaparecimento imediato, pelo menos o prejuiso das outras duas formas, o cinema sonoro, aliás o que hoje assim se chama, mas que num futuro talvez próximo poderá chamar-se, sem atentar ao bom senso, e com muito mais simplicidade: teatro. Actualmente, por cinema, sem possibilidade de equivoco, entendemos tratar-se do silencioso, e assim, entre nós, continuará a ser durante algum tempo; mas pelo menos para fins reclamativos, a distinção entre um e outro em breve será necessária. Convem reparar-se que cinematógrafo falado é talvez um pouco pleonástico, se considerarmos que o som e a palavra são movimento. As tentativas para formar um novo vocabulo semelhante a estes que André Therive, nas Querelles du Langage, apontava como autenticos casos teraloicos: onïvoir, phonorer, photouir, cinouïr, auricouler, audicerner, etc., denotam bem a confusão em que se está perante a possibilidade do cinema falado; mostra-nos como, a muita gente, isso parece uma. coisa tão nova que exige um novo verbo para designar a acção de assistir ao cinema falado, esquecendo-se de que se dizia muito claramente ir ao teatro - ouvir e ver, subentendia-se. Prova tambem que o desejo do que é novidade não está satisfeito, e que se ilude essa ambição, criando-se uma palavra. Isto porém é com os filologos, e não modificará de maneira importante o objecto designado. O que nos propuzemos averiguar, não foi a palavra porque amanhã se designarão as três formas de espectáculo, foi o destino destas três maneiras de exprimir a mesma coisa, que quizemos prever. Já o dissemos: julgamos que elas evoluem no sentido do teatro, ou por outra, tendem a voltar ao teatro de onde saíram. Esta profecia do fim da nova arte do silêncio encontra em muita gente uma atitude de antipatia que se justifica no facto de quererem vêr no cinema uma forma inteiramente nova de expressão artística; porque lhes parecerá a profecia de um regresso, a volta a formas ultrapassadas. Realmente não ha como muitos pretendem uma arte do silêncio. Podem sê-lo, se quizerem, a pintura, a escultura, a scenografia, a mí- mica, sobretudo esta que é a voz dos mudos e do cinema, artes silenciosas, mas falar na arte do silêncio é uma forma de fazer acreditar na arte cinematográfica, que não existe, como não existe arte gramofonográfica, mas simplesmente música, visto que o processo de gravá-la e reproduzi-la, apesar-de complicado, e requerer certos cuidados técnicos, ainda não foi classificado como arte. Da mesma maneira que o gramofone nos tem dado música, e não arte de disco, o cinema tem-nos dado teatro, se como tal entendermos uma narração, pela palavra (os letreiros) pela mímica e pelo scenário - uma coisa que por ser antiga não é velha - mas, emquanto o velho processo, conservava o grande meio, que é a linguagem falada, de exprimir e criar uma emoção, era insuficiente no scenário e mesmo na mímica, em relação ao cinema, que, forçado a reduzir a palavra ao estrictamente indispensável, obteve do gesto e do scenário, uma eloquência imprevista. O conflito entre o cinema e o teatro, ou melhor entre o écran e o palco, entrou numa fase nova hoje que as esperanças são fundamentadas de que conseguirá conjugar-se com a projeção da imagem a emissão de sons concordantes, e da fala. Dissemos conflito porque, não sómente as duas maneiras de fazer da vida uma obra de arte - no palco ou no écran - estavam já ha muito em aberta rivalidade comercial, que só por si justificaria que vissemos um conflito entre elas, como, principalmente, porque veem-se pessoas tomar partido pró e contra teatro e cinema, com uma paixão que nem sempre deixa pensar correctamente. Nesta conjuntura conflictuosa surgiu a promessa do cinema falado que uns por pessimismo, outros porque ao silencioso os ligavam interesses comerciais, e sem ser comerciais, foi tida em pouca consideração, e julgada até prejudicial ao cinema, com C grande, sem benefício para alguem ou para alguma coisa. O snobismo engrossou as fileiras de um e outro partido, porque o snob julga-se sempre no dever de tomar partido, e, como «êles» se dividem em dois grandes grupos, um com a filia do novo e a fobia do velho, o outro ao contrário, assim procederam nesta emergência conforme o seu grupo. Esta irreconhecivel classe de individuos julga dar boas provas de si admirando e tornando-se partidária de tudo quanto é ou parece novo, se pertence à primeira categoria, porém muitas vezes uma tolice velha vestida de novo leva-os a repelirem o que lhes parece velho, que frequentemente é apenas antigo e muitas vezes eterno os da segunda categoria procedem ao contrário mas tambem êstes se contentam com meras exterioridades, e assim o que é essencialmente novo e eterno. tem sempre contra si esta espécie bipartida. Fechemos o parèntesis sobre a intervenção do snob porque, nesta dissidência da arte dramática que uma técnica nova veio abrir, êle foi afinal um comparsa. A conjunção dos processos cinematográficos e fonográficos, são para o teatro o que foi a imprensa para a literatura-uma crise de crescimento - com uma diferença porém, é que no caso de agora, a nova invenção não se limita a reproduzir e pôr ao alcance de todas as bolsas o teatro, como a imprensa o livro (e isto já não seria pouco se todas as consequencias deste mais facil acesso se repetirem analogamente com o teatro) mas, consegue subtraí-lo dos estreitos quadros que o tempo e o espaço impoem numa casa de espectáculos, e, talvez, criar assim uma ficção tão sugestiva que a nossa imaginação seja fraca para sonhá-la. Não devem tornar-nos pessimistamente descrentes a pouca felicidade de algumas realizações. Se olharmos o caminho percorrido pelo cinema mudo colheremos vários ensinamentos que nos darão fé. Assim vemos que a fotografia de um gesto é senão mais, pelo menos tão eloqüente como o próprio gesto; vêmo-lo agora ao cabo de alguns anos em que uns homens se esforçaram, e por fim conseguiram não só captar e liberar a imagem do gesto, mas, sobretudo criar e desenvolver a significação por vezes patética que pode ter a contracão de um músculo, até chegarmos ao trágico que se nos revela, por exemplo, na descoordenação da marcha com que Charlot, no final do Circo se afasta do grande símbolo desenhado na terra. Estamos aqui muito longe das macaquices kinematográficas de 1910 que ninguem, ao tempo, pretendia classificar como manifestações artísticas. Os ruidos e vozes roufenhas de hoje estão para o cinema falado de amanhã, na mesma relação da macaquice para o gesto trágico. Aos personagens dessas idades heroicas do cinema só por favor podemos chamar personagens, de tal maneira eram insignificantes e faltas de vida, as sombras que se moviam enervantemente silenciosas e tremidas no espaço a duas dimensões do écran. Tudo nos indica que os progressos realizados com o gesto que nos impressiona a vista se repitam de igual modo com aquele que atinge o nosso ouvido: o grito, o canto e a palavra. A técnica fotográfica que permitiu dominarmos materialmente o gesto mímico, permitiu-nos, o que parece não ter sido suspeitado então, e que é bom acentuar agora, dominar a sua significação artística,e talvez engrandecer no público a compreensão das ideias e sentimentos que êle imediatamente exprimiu. Hoje ninguem suspeita de quais os resultados da nova técnica que nos permitirá assenhorearmo-nos do gesto sonoro. Acreditamos que êles ultrapassarão todas as espectativas. Para o triunfo e excelência do cinema sonoro, ou do teatro, terá alguma influência a atitude do pùblico? Estamos disso plenamente convencidos, e por isso o convidariamos a simpatizar e admirar o novo processo, cujo princípio será como todos difícil e problemático. MAIA PINTO
dc.title“Teatro e Cinema”
dc.typeartigo de imprensa

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