“O combate de Carpentier-Beekett descripto pelo vencedor”

dc.contributor.authorCarpentier, George
dc.date.accessioned2024-04-19T10:04:01Z
dc.date.available2024-04-19T10:04:01Z
dc.date.issued1924-06
dc.description.abstractNum artigo que relata o combate de boxe de 14 de dezembro de 1919 entre o francês George Carpentier (1894-1975) e o inglês Joseph Beckett (1892-1965), o autor começa por destacar o alvoroço da multidão que enchia as ruas de Londres a fim de chegar ao Holborn Stadium, um local que, a partir de 1887, começou a receber este tipo de eventos. Neste lotado recinto, era possível distinguir a presença do Príncipe de Gales. Por entre os anglicismos usados, destacam-se ring, hall, rounds, “breack”,“uppercait” e clinch, que se conectam com o desporto praticado. No primeiro contacto com o adversário, Carpentier compara-o a Bombardier Wells – William T. Wells (1889-1967) –, um pugilista inglês.
dc.description.authorDate1894-1975
dc.description.printing_nameAntónio Filipe de Gouvêa
dc.identifier.urihttps://cetapsrepository.letras.up.pt/id/cetaps/114436
dc.language.isopor
dc.publisher.cityLisboa
dc.relation.ispartofRevista (A)
dc.relation.ispartofvolume1
dc.researcherMarques, Gonçalo
dc.rightsmetadata only access
dc.source.placeBN J. 2817//11 B
dc.subjectDesporto
dc.textO combate Carpentier-Beekett descripto pelo vencedor Na noite de 4 de Dezembro de 1919, segundo uma expressão inglesa que significa bem o que pretende, todas as ruas de Londres iam dar ao Horlborn Stadium. Por outras palavras, uma enorme multidão seguia para o hall onde convergia a atenção de todos os sportmens da Europa e talvez do mundo. A maioria deles não possuia a menor esperança de entrar no famoso recinto, porque, desde muito tempo os 4 200 lugares que continha, tinham sido vendidos, muitos êles por um preço que excediam em muito a tarifa oficial de M. Crochan organisador da grande prova. Mas uma espécie de curiosidade frenética parecia ter-se apoderado dos londrinos e não podendo satisfaze-la duma maneira completa, milhares e milhares de pessoas tinham resolvido, à falta de melhor, ver pelo menos os muros atraz dos quais se ia passar alguma coisa. Por isso, muito tempo antes da hora marcada para o começo da sessão, a circulação tornou-se interrompida por completo no Holborn, a arteria de resto espaçosa onde se abria a entrada do Estadio. No interior, o ponto de vista era verdadeiramente único, a assistência comportava tudo que tem um nome no Londres chic, diplomática, artística, literária, política e sportiva. Na primeira fila notava-se o príncipe de Gales, que tinha, não sem dificuldade ganho o lugar de ring que lhe fôra reservado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eram 10 horas em ponto, quando em resposta ao convite proposto aos boxeurs, eu penetrei no hall todo branco de luz, saudado com uma tal oração que seria difícil receber duma assistência exclusivamente composta de franceses. Logo que entrei no ring e conforme um hábito que considero lutas de pugilismo, dirigi-me rápidamente para Beekett - já sentado no seu canto - e apertei-lhe vigorosamente a mão. Voltando-me depois para o príncipe de Galles fiz um respeitoso cumprimento, que êle agradeceu inclinando a cabeça e com um sorriso amabilissimo. Desde que voltei para o meu canto, Descamps, com o mais consciente dos vagares, deu cumprimento aos ritos tradicionais: - à colocação das ligaduras e das luvas. Durante estas operações observei furtivamente o meu adversário, e verifiquei que estava notavelmente comovido. Participei isso a Descamps, fazendo-lhe notar que o homem, que me tinham descripto como um modelo de fleugma e absolutamente diferente de Bombardier Wells, devia ser na realidade extremamente excitável. E, confiante como de costume, François respondeu-me com absoluta segurança: "O máximo, 2 rounds". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apoiado na ponta dos pés precipitei-me ao encontro de Beekett que avançava para mim com um passo pesado, e que dizia alguma coisa sôbre a nossa diferença de estilos. De começo o meu punho esquerdo, tal como o embolo duma máquina, caiu-lhe sôbre a cara e vi distintamente corar de vermelho vivo o nariz do inglês, ao mesmo tempo que na cara se lhe lia uma enorme surpreza. Esqueci, instantaneamente, tudo o que me tinham dito da sua força e compreendi que êle devia ser batido pela minha superior rapidez. Bing!... fez de novo o meu esquerdo. O homem passou o forro da luva pelo naríz, como para dissipar à desagradável impressão do sôco. De seguida, o inglês fez partir os dois punhos, procurando bater-me no corpo; mas como só me tocasse os cotovelos, caíu em clinch. Á voz de breack, recuamos ambos, e imediatamente o fim chegou dramático pela rapidez - o fim desse choque que tantos pensavam dever ser indeciso. Deante dos meus olhos o queixo largo, voluntário e quadrado, de Beekett, oferecia-se como um alvo. Com uma finta rápida do esquerdo, levei o homem a descobrir- se, e então, na ponta dos pés, como um galo, apelando para todos os recursos que em mim pudiam residir, deixei partir a minha mão direita, com toda a força, toda a potencia, toda a velocidade de que era capaz. O punho forrado de coiro verde atingiu Beekett na ponta do queixo, no sítio preciso que eu visava; e como se uma bala o tivesse atingido no coração, o homem, dobrando pelos rugosos joelhos, caiu. Na queda tive ainda tempo para lhe levantar a cabeça com um uppercait da esquerda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quando o arbitro, tendo esgotado o rosário dos segundos, pronunciou o fatídico ont, o campeão de Inglaterra, estendido no ring, ainda nem estremecera sequer. GEORGE CARPENTIER.
dc.title“O combate de Carpentier-Beekett descripto pelo vencedor”
dc.typeartigo de imprensa

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