“As razões do irrazoavel”

dc.contributor.authorSilva, Paulo Marinho da
dc.date.accessioned2024-04-19T10:04:13Z
dc.date.available2024-04-19T10:04:13Z
dc.date.issued1926-04/05
dc.description.abstractNa transcrição de uma carta que conta o desenrolar de uma relação amorosa entre o autor e a sua amada, Izabella, da qual ele se separa de vez, emprega-se o anglicismo "maple", um tipo de cadeirão que estaria presente no seu salão.
dc.description.printing_nameIlídio Perfeito
dc.format.extent23
dc.identifier.urihttps://cetapsrepository.letras.up.pt/id/cetaps/114486
dc.language.isopor
dc.publisher.cityLisboa
dc.relation.ispartofA Revista
dc.relation.ispartofvolume5
dc.researcherMarques, Gonçalo
dc.rightsmetadata only access
dc.source.placeBN J. 2779//2 B
dc.subjectAnglicismos
dc.textAS RAZÕES DO IRRAZOAVEL Tu n'etais pas si prompte, alors - PAUL GERALDY Meu amigo: Recebi neste momento, o teu telegrama cheio de espanto por eu têr rompido - e de vez! - com a Izabella. Pedes-me do teu retiro doirado da Beira, que te diga as razões. Oh! meu caro João, as razões são tantas e tão desvairadas que se torna dificil aponta-las ... Mas, emfim, pela nossa amizade, vou procurar confidenciar-te essas razões. Pois é verdáde: a minha ligação com a Izabella - tão linda, tão loira, tão soignée - durava ha já quatro anos - que não foram curtos ou largos: foram como soem sêr todos os anos. Desde o dia em que m'a apresentas-te no «aprés Theatre» do Parsifal, te'ha oito dias - cuido que foi ha oito dias - que a deixei, serena e fria no maple, rôxo, do seu salãozinho lilaz, fumando uma cigarrilha de ambar, sempre nos demos bem e sempre nos amámos com vigor, como dois ternos amantes pontuais e sérios. Sim, meu velho, porque nós haviamos feito um juramento - os namorados juram sempre! - de vivermos juntos «toujours: por isso o nosso amor era serio. E a Izabella, meu caro, tinha naqueles primeiros encontros um tal enleio, umas tais creancices timidas, que me deleitavam. Mas a pouco e pouco Izabella foi perdendo a timidez e o pudor do inicio. Começámos a ser intimos. Se viviamos sempre juntos não era de estranhar esta intimidade .. Izabella gostava muito de conversar envolta apenas num roupão transparente de rendas preciosas e eu quedava-me fumando á beira do divan de damasco - aquele damasco freiratico que nos ofereceste, recordas-te? - a vesti-la com os meus olhos. Ao principio meus olhos despiam-na! E foi assim, meu João, que começou entre nós um mal-estar profundo. Os amúos multiplicaram-se e as querelas vieram sem fim. Mas nunca fomos brutais: entre um homem e uma mulher de espirito nunca ha, meu amigo, faltas de atenção! Izabella e eu sentiamos que a jura que haviamos feito tinha, fatalmente de ser quebrada. Quebramo-la ha oito dias, «voilà tout». Porquê? Apenas por isto: tornamo nos intimos de mais! « Et maintenant je la regrette Cet enfant au front serieux, Qui pour un peu plus secrete Mettait son bras nu sur ses yeux ». É este o caso, apenas este. Meu bom João, o Poeta nestes versos - e são belos os versos, não achas? - fez o mais colossal dos tratados de psicologia. Dois amantes deixaram de o sêr quando começaram a conhecer os seus habitos, os seus gostos, êsses pequeninos nadas que só são belos advinhados, pressentidos, sonhados. É que, meu velho, não ha nada mais sensaborão para dois amantes - mesmo inteligentes como nós eramos - do que saber de cór o numero de botões da camisa ou a qualidade do crépe da combinação? Quando tudo isto se vulgariza estes dois seres que juraram amar-se eternamente - eternamente!!... - é certo que começa o tedio, o abrir da bôca, o sono, o pesadelo... Porque, meu caro, nós juramos um amor eterno, mas este amor, tinha de ser sempre amor. Como se o Amor pudesse algum dia sêr sempre! O amor é já. No amor o amanhã, é desejo furioso, o hontem aborrecido bocejo. Não rias, quem te dis isto, sabe bem o que é o amor da Cidade - a minha querida Cidade - todo moderno, civilisado, complicadissimo. Tu, meu João, casaste e vives no teu castelo da Beira: e não ha nada para fazer esquecer as teorias e as praticas de solteirão como os casamentos da espécie do teu; santo e puro, medieval quasi. Aí está porque mandaste este telegrama. Oh! meu querido João, como tu estás esquecido do que fôste: perguntas as razões porque se acaba uma ligação!! Se nós nunca sabemos as razões porque começam... Teu antigo companhairo e perpetuo amigo PAULO Pela copia MARINHO DA SILVA
dc.title“As razões do irrazoavel”
dc.typeartigo de imprensa

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