“Arte de vestir mulheres”
dc.contributor.author | Guimarães, Luís de Oliveira | |
dc.date.accessioned | 2024-04-19T10:04:04Z | |
dc.date.available | 2024-04-19T10:04:04Z | |
dc.date.issued | 1926-04/05 | |
dc.description.abstract | Num artigo sobre as novas tendências de moda feminina, o autor discorda com os alfaiates londrinos e defende uma separação evidente na forma como se vestem homens e mulheres, considerando um ultraje a nova moda do "smocking" feminino. | |
dc.description.authorDate | 1900-1998 | |
dc.description.printing_name | Ilídio Perfeito | |
dc.format.extent | 17-18 | |
dc.identifier.uri | https://cetapsrepository.letras.up.pt/id/cetaps/114484 | |
dc.language.iso | por | |
dc.publisher.city | Lisboa | |
dc.relation.ispartof | A Revista | |
dc.relation.ispartofvolume | 5 | |
dc.researcher | Marques, Gonçalo | |
dc.rights | metadata only access | |
dc.source.place | BN J. 2779//2 B | |
dc.subject | Vida Social e Entretenimento | |
dc.text | arte de vestir mulheres Vestir uma mulher é qualquer coisa de grave e de complexo. Vestir uma mulher não é, embora o queiram fazer acreditar os alfaiates de Londres, precisamente o mesmo que vestir um homem. Vestir um homem é enfiar-lhe os dois canudos das calças, espetar-lhe um jaquetão ou um frack, atar-lhe ao pescoço oitenta centimetros de sêda e dizer-lhe: « Pronto! estás vestido!» Não. Vestir uma mulher é o mesmo que celebrar uma missa de pontifical, é todo um cerimonial de etiquetas e de praxes. Vestir uma mulher...é isso mesmo. * * * Para vestir uma mulher são necessarias trez condições indispensaveis: dinheiro, gosto e paciencia. Sem estes trez elementos pode-se tapàr um corpo de mulher, mas não se pode vestir esse corpo. Tapar pode ser, e é, realisar. Mas vestir é mais do que isso, porque é sonhar. Vestir é fazer de noventa centimetros de seda ou de setim, de musselina ou de crépe, de chita ou de lã, um poema adoravel de graça, de tentação, de leveza e de espirito. Vestir uma mulher é o mesmo do que fazer uma trouxa d'ovos. * * * Cada uma dessas trez condições indispensaveis para vestir uma mulher tem na vida a sua expressão definida. A paciencia é representada pelo espelho; o gosto pela modista; o dinheiro - pelo homem. Sem um homem, uma modista e um espelho - uma mulher ha de inevitavelmente ficar mal vestida. É da concorrencia destes trez factores, cuja ordem não é arbitraria, que o vestido da mulher marca e impôe a sua elegancia aos vestidos das outras mulheres. * * * A arte de vestir mulheres tem tido a sua evolução. Começou na pequenina folha verde duma parra e, ou eu me engano muito, ou ha de acabar como começou. O vestido é a fantasia, é a blague, é a mentira. Quanto mais uma mulher se despe, mais se aproxima da verdade - e nós estamos caminhando, a passos largos, para a verdade da toilette. Já desapareceram as golas altas e as saias de cauda substituidas respectivamente pelo decote pelo joelho e pela saia pelo pescoço. As mulheres deixaram de usar camisa e implantaram o delirio imponderavel das combinações. Porque as combinações são mais comodas do que as camisas? Não. Porque são menos logicas. Quando um homem gosta muito duma mulher - o que pretende é rompêr a combinação... Parece que devia ser o contrario - mas não é! * * * O que as mulheres fazem ás vezes por causa dum vestido! Que loucuras, que caprichos, que ataques de nervos. M.me X cortou relações com M.me Z só porque ambas tinham um vestido da mesma côr! * * * É possivel que algumas de v. ex.as minhas senhoras, desconheçam ainda uma moda que está fazendo furor em Londres, em Berlim - e, evidentemente em Paris. Já não se trata do smocking feminino; já não se trata das cabeleiras da côr dos vestidos para os bailes e para os jantares elegantes! trata-se de alguma coisa de mais ruidoso e de mais imprevisto. Chut! Não se admirem ; As ligas das mulheres passaram a ser orladas de guisos. Todos nós estamos já a prever o que serão, por êsse mundo fóra, cento e cinqúenta milhões de pernas chocalhando, tilintando, pelo menos, cento e cincoenta milhões de guisos! Evidentemente, perante êsta sôma, desaparecerão, envergonhados, os sinos de todas as igrejas e os carrilhões de todas as catedrais : não haverá mais sossêgo, mais tranquilidade, mais serenidade à superfície da terra - e todo o homem que não quiser ficar doido terá de tomar o partido de ficar surdo. * * * Os costureiros parisienses acabam de lançar a moda do smocking para as mulheres. Excelente! Amanhã as modistas francesas lançarão a moda das calças para o sexo fraco - emquanto os alfaiates de Londres decretarão as saias para o sexo forte. Positivamente excelente! O que estou a vêr, desde já, é a série de equívocos, de mal entendidos, de distracções a que esta inversão da moda se permitirá o luxo de dar lugar. Quem nos garantirá a nós que Mlle X com o seu cabelo cortado, com o seu smocking e com as suas calças crescidas não é realmente por dentro e por fora - um homem? E quem nos garantirá ainda que o noivo de Mlle X com as suas tranças, o seu decote e a sua saia curta não é realmente por fóra como é por dentro - uma mulher? Eu bem sei que a maior parte da gente se não preocupa com estas questões de familia: é-lhe indiferente que Mlle X seja homem e o noivo de Mlle X seja mulher e que o mundo ande de pernas para o ar e de cabeça para baixo. Mas sei tambem, se preguntarem a qualquer dos meus leitores se éle prefere ser homem ou mulher que ele responderá, com um sorriso : - Eu prefiro uma mulher. * * * E afinal pensar que a maior parte das mulheres se veste - apenas para se despir! (Ilustrações de R. Nobre). LUIZ DE OLIVEIRA GUIMARÃES | |
dc.title | “Arte de vestir mulheres” | |
dc.type | artigo de imprensa |